22 de agosto de 2017


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Se a economia brasileira se comportar como a de outras 37 nações que passaram por recesso nas últimas décadas, o desemprego deve levar cinco anos para voltar ao nível pré-crise (6,5%, em 2014).

Além disso, a taxa natural de desemprego (aquela que não acelera a inflação) subir dois pontos percentuais, para perto de 10%. No segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego brasileira ficou em 13% (de cada 100 brasileiros interessados em trabalhar, 13 no conseguiram se ocupar), segundo a Pnad contínua, medida pelo IBGE.

O estudo sobre o impacto da crise no mercado de trabalho foi feito com 123 episódios recessivos de 1961 a 2017 e publicado nesta terça (22) pelo banco Credit Suisse.

Os 34 trimestres necessários para que a taxa de desemprego volta aos níveis de 2014 tm por hipótese um crescimento da economia de 2% a partir de 2018.

Num cenário otimista, de 4% ao ano, o recuo da taxa de desemprego levaria 26 trimestres, se a economia brasileira seguisse o padrãóo dos episódios estudados pelo banco.

PIB PRIMEIRO

A história das últimas décadas mostra que a taxa de desemprego s volta aos níveis pré-recesso depois que o crescimento do PIB retoma seu vigor anterior.

Foi essa a ordem nos 50 casos, dos 123 analisados, em que tanto atividade económica quanto taxa de desemprego já haviam se recuperado, segundo dados da OCDE.

Em outros 59, o PIB já havia voltado velocidade pré-crise, mas a taxa de desemprego não há outros 12 episódios em que nenhum dos indicadores se recuperou até o primeiro trimestre de 2017.

O estudo do Credit Suisse avaliou o tempo de retomada de PIB e emprego nos 50 casos de recuperação total.

Na mídia, a retomada do PIB levou 7 trimestres e a da taxa de desemprego, 9.

Quando se avaliam, porém, os países cuja profundidade da recesso foi semelhante do Brasil —em que a economia já encolheu sete pontos percentuais desde 2014—, os prazos crescem.

Nesses casos, a mediana da recuperação do PIB foi de 15 trimestres e a da taxa de desemprego, de 17 trimestres.

“São patamares mínimos”, diz o economista Leonardo Fonseca, da equipe do Credit Suisse, porque nesses 50 países o crescimento foi forte o suficiente para permitir a queda da taxa de desemprego.

No caso do Brasil, a estimativa que o PIB precise crescer acima de 1,7% ao ano para que a taxa de desemprego comece a recuar.

“Se a economia do país crescer muito perto desse número, a queda do desemprego pode demorar muito. Para que ele caia mais rápido, seria preciso crescer perto de 3% ou 4% ao ano.”

NOVO PATAMAR

Outra questão importante, segundo Fonseca, o desequilíbrio duradouro provocado pela recesso no mercado de trabalho.

Numa amostra de 53 pases cujas recesses se encerraram antes da crise global de 2008, a taxa natural de desemprego no voltou aos níveis que tinha antes. Na mediana, ficou 1,5 ponto acima, 30 trimestres depois do incio da crise.

Ja nas crises mais profundas, semelhantes brasileira, a alta foi de 1,9 ponto percentual.

O economista ressalva que analisar o caso específico do Brasil tem limitadores, como o fato de que a Pnad contínua começa apenas em 2012, o que dificulta observar como o desemprego se comportou em outros períodos recessivos da história.

Na comparação internacional, preciso considerar fatores como o grau de flexibilização do mercado de trabalho —regras e encargos sobre contratações podem adiar a retomada.

“Num país com flexibilidade grande, como os Estados Unidos, a queda do desemprego depois da crise de 2008 foi muito mais rápida que em outros países.”

No caso brasileiro, a reforma trabalhista pode tornar o mercado de trabalho um pouco mais flexível. “Quando o país começar a apresentar crescimento mais forte, isso pode se traduzir numa volta mais rápida da taxa de desemprego.”

Outro fator que poderia mitigar o impacto sobre o desemprego, diz Fonseca, o investimento em educação, principalmente dos mais jovens.

Isso compensaria a perda de experiência que eles vão sofrer pelo desemprego mais alto, que dificulta a entrada no mercado de trabalho.

“Mas, com a crise fiscal e a escassez de recursos